Efervescência contracultural porto-alegrense das décadas de 1970 e 1980 é tema de dissertação
A contracultura é um elemento essencial para que uma cultura siga se movimentando. Entre as décadas de 1960 e 1980, a opressão que se via no Brasil com o autoritarismo da ditadura militar inflou o peito de vários artistas do país e fez surgirem diversos movimentos culturais que seguiam na contramão do que era estabelecido. Na música, um exemplo clássico que tomou proporções nacionais e entrou para a história foi a Tropicália (1967-1969). Quanto aos estados brasileiros, cada um concentrava em si seus próprios movimentos contraculturais, seus grupos de personalidades destoantes. Em relação ao Rio Grande do Sul, a dissidência é personagem regular da sua história, e Porto Alegre não podia contribuir mais com essa narrativa.
Na década de 1970, os artistas e estudantes do Instituto de Artes jogo do barcelona se movimentavam com efervescência pela capital. Jesus Escobar, Teresa Poester, Karin Lambrecht, Heloisa Schneiders e Simone Michelin sequer imaginavam que, quase 50 anos depois, suas intervenções artísticas realizadas em grupo, que objetivavam romper com as normas culturais vigentes, se transformariam em dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da mesma universidade. A historiadora da arte Carolina Medina, autora da dissertação, revisitou a atuação desses estudantes entre os anos de 1976 e 1982 por meio de consulta em fontes primárias e entrevistas, propondo analisar como se deu a trajetória dos artistas e quais traços permaneceram em seus trabalhos. O trabalho foi orientado pela professora do PPGAV Ana Maria Albani de Carvalho.
Cafés e reminescências
Para reconstruir os passos do grupo, Carolina consultou documentos, cartas, obras e jornais. Mas o que se destacou na pesquisa foi a oralidade: na ausência de evidências concretas que comprovassem fatos, a história oral se fez protagonista no mapeamento da historiadora da arte. Teresa Poester, artista visual e ex-professora do IA, revirou suas memórias e as confidenciou à pesquisa de Carolina. O cenário dos encontros entre as duas incluía a casa de Teresa e cafés da cidade. Conforme a pesquisa avançava, os encontros ganhavam mais integrantes: a elas logo se juntaram Jesus Escobar e demais artistas que foram menos centrais na pesquisa, mas que também atuaram ao lado do grupo em algum momento. E, desta forma, a ciranda de reminiscências, enriquecida, foi reconstruindo dias que ficaram para trás no tempo.
Jesus Escobar foi o estopim para a dissertação de Carolina. Ainda na graduação, por volta do quinto semestre do curso de História da Arte, um trabalho de uma disciplina a fez chegar à obra do artista. “Na época, eu trabalhava na Pinacoteca Rubem Berta daqui de Porto Alegre e, conversando com o diretor do acervo artístico, que é o Flavio Krawczyk, ele comentou sobre um artista de El Salvador que tinha várias obras na prefeitura, mas não havia muitas informações sobre ele ainda”, relata. Já no mestrado, a pesquisa que antes focou no trabalho de Escobar teve o seu escopo aumentado e passou a abranger também as proposições dos artistas que atuaram ao lado do salvadorenho no corte sincrônico estabelecido.
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