Tese de doutorado analisa a onda de disseminação negacionista do modelo Terra Plana
Dentre as tendências sociais que a década de 2010 viu ascender no meio social, o negacionismo é uma das que mais se intensificaram nos últimos anos. A prevalência de emoções e crenças pessoais em detrimento de saberes cientificamente embasados é o que caracteriza o fenômeno da pós-verdade, atual momento da sociedade ocidental. Eventos como a pandemia de coronavírus e a crise climática foram e são exemplos que salientam a popularização do negacionismo no Brasil: ainda que se tenham evidências científicas de que a vacina salva vidas e de que a emissão de gases do efeito estufa provenientes de ações humanas estão acelerando o aquecimento global, há quem prefira estar do lado de teorias conspiratórias que negam essas informações.
Diretamente ligado às redes sociais, o fenômeno da pós-verdade também alimentou a expansão da crença de que a Terra é plana. Preocupada em compreender as causas e consequências em torno desse movimento social, uma tese de doutorado do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social jogo do barcelona analisou a formação de público e as dimensões estéticas da onda de disseminação do modelo Terra Plana, que tomou forma nas plataformas digitais. A tese, de autoria de Jorge Garcia de Holanda, observou como o “despertar” para a “verdade oculta”, defendido pelos terraplanistas, se deu a partir de imersão aprofundada em conteúdos de mídia, em sua grande maioria vídeos publicados na plataforma YouTube.
Imersão aprofundada e despertar
No final de 2018, enquanto navegava despretensiosamente pelo YouTube em busca de músicas, Jorge esbarrou numa sugestão de vídeo sobre terraplanismo. O antropólogo já havia sido vagamente introduzido ao termo. Curioso, decidiu arriscar o clique para saber o que havia de tão interessante. O vídeo de horas mostrava um youtuber estadunidense documentando a situação em torno do tema, e a partir daí surgiram várias outras recomendações de pessoas defendendo a teoria. “Era um choque [pra mim]. Como assim, tem pessoas defendendo algo sobre o qual a ciência já produziu uma série de fatos em completo desacordo?”, se indagou.
O projeto inicial da tese, que seguia a linha do mestrado e abordaria pessoas em situação de rua, foi reformulado. O interesse de Jorge em aprofundar suas buscas partiu da necessidade de compreender como era possível sustentar algo que vai tão na contramão da ciência e qual a relevância de se produzirem tantas imagens. “Toda uma coisa muito contraintuitiva para qualquer pessoa que teve uma formação em escola e estudou que a terra é esférica”, diz.
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